17 de out. de 2009

AMOR CONCRETO


AMOR CONCRETO
(uma fábula minimalista)


Rouca, engoliu-lhe a língua louca.

– Só mais uma como aquelas – rosnou, como a propor asas de estilo à despedida; enquanto as mãos já invadiam-lhe a cueca, apertando-lhe o pênis, os testículos..., dois dedos lendo-lhe o ânus.
. . .
Alcançada a plena satisfação física, as últimas satisfações emocionais.
Depois de anos,
em fim,
concluíam:

Nossa história de amor se edificou sobre o sexo.
Muito, muito cimento – virou puro concreto.
Amor mesmo, aquela coisa abstrata que une dois corações,
jamais houve o suficiente para evitar-se a implosão.

Não se veriam nunca mais.

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18 de mai. de 2009

Versos DEZ

Versos DEZ

Vou escrever por extenso

Cada valor dos meus anos

Cada nota em pesos pensos

Contados em DEZenganos

DEZencontros DEZalentos

DEZesperanças sofridas

DEZinteresses a100tes

DEZproporções investidas

Voz de Eus DEZencarnados

Em Versos DEZestrofados

29 de abr. de 2009

MAREMOTO




MAREMOTO


Empurrado por um eu mais depressivo
Calo os versos que não me deixam calar
Acomodo-os num soneto dispersivo
E remeto-os cá pro fundo do meu mar

Um profundo em que os eus que me confundem
Não desistem de tentar me recompor
Recompondo-se em ondas que me iludem
E ao quebrarem-se não quebram minha dor

Chegam à praia dos meus próprios pedregulhos
E desfilam aos meus olhos de Narciso
Refletindo meu semblante – minha foto

Depois voltam-se com um aparente orgulho
Me depondo os mesmos versos imprecisos
Decompostos neste falso maremoto

27 de abr. de 2009

UMA LINHA DE FRENTE DO CAOS


c a o s


Não é preciso ser nenhum expert para reconhecer que os movimentos literários de fôlego já não existem há décadas.
Desde o Modernismo e as vertentes de vanguarda experimentalista, que nos legaram o concretismo, o tropicalismo, o underground, etc., nossa literatura não se beneficia de nenhum grande movimento organizado. O que, na verdade, não tem sido nenhum empecilho maior ao florescimento de obras originais no sentido menos romântico do termo.
Afinal nestes tempos internáuticos até as idéias estéticas parecem-nos, naturalmente organizadas. Quaisquer informações atravessam os quatro cantos de maneira rápida e eficiente. E, em meio a isso, quem quer produzir literatura tem hoje um espaço nunca antes visto. Em que pesem a infinidade de postagens inteiramente descartáveis, as apropriações indevidas, as regras de um mercado impositivo desmotivador e aliciante, a via on-line mantém-se cada vez mais ampla e aberta a novos autores. Estão aí as páginas pessoais, blogs, sites de toda a sorte, a pavimentar novos e novos caminhos; a interação, a crescente intertextualidade, a retórica creative commons, a incontrolável liberdade de criação/recriação e os inúmeros produtos de valor inegável daí advindos.
Por que se falar então em movimento organizado? O mercado e as iniciativas independentes, embora muitas vezes em choque, têm dado conta de responder, natural e eficientemente, às exigências estéticas dos novos tempos. Nunca as artes visuais, a música e todo o pensamento estético da humanidade estiveram tão sintonizados com as aspirações da sociedade. Por mais que se prolifere o lixo comercial amparado pela mídia, barreiras são quebradas a todo instante. Culturas se entrecruzam e antropofagem, sinalizando para uma sociedade global muito mais próxima da utopia da arte auto-reflexiva e norteadora; capaz de reconsiderar e reconduzir o homem como ser social e intimista, num mundo “completo”, onde as injustiças, as políticas agressivas, a exploração e a fome (de comida e de inserção) não são mais simples segredos locais de ditas/Cias e democraduras.
Porém essa onda de aparente democratização da informação e do alcance dos ideais mais nobres tende a refletir e escamotear um grande caos na esfera das mentalidades e do próprio sistema produtivo. Quem não se reorganizar acabará sendo engolido implacavelmente pela hecatombe desenfreada do progresso dito pós-moderno.
Quanto ao sistema em si, depois das lições e deturpações do frustrado ideal de inspiração marxista, os mecanismos de readaptação e inserção da eficiente burguesia tendem a administrar e redirecionar o caos, para bem dos “sacro-santos” valores da iniciativa privada, por meio de um implacável movimento evolucionista de natureza e espécie fundadas numa apropriação meio que filosófica do mais tradicional espírito darwinista.
Mas, e as mentalidades, ou, mais propriamente, a atuação estética – sobretudo a literária?
Como fazê-la beneficiar-se desse rico e produtivo caos on-line?
Uma seleção natural, como a que muitos de nós e toda a elite dominante parecemos apostar, não tenderia a fazer prevalecer as iniciativas mais comerciais e menos socialmente pragmáticas?
Quero dizer, não caberia ao chamado artista virtual mais experiente e esclarecido, aquele cujo foco de atuação sugere um efetivo desenvolvimento das expressões artísticas como a dita literatura estilhaçada, assumir a linha de frente na construção de um movimento virtual e atrativamente organizado; um movimento tendente a abstrair desse caos de aparência irreversível uma nova estética, direcionada para as transformações que o mundo de hoje (real e literário) reclama?
Já se fala em virtualismo como uma espécie de vertente organizada do olhar pós-modernista no interior da web. Mas a grande maioria dos artistas e pensadores que se expressam nos inúmeros blogs, portais e sites literários que pululam pela rede não parece (ou não consegue) manifestar grande interesse numa efetiva iniciativa de organização – preocupados que estão em canalizar adeptos às suas legítimas aspirações a um mínimo reconhecimento público.
Contudo, será que em meio a todo esse caos cibernético não temos como reunir disponibilidade e quadros capazes de filtrar e redimensionar as inúmeras iniciativas culturais da web em mínimas associações de conteúdo e atuação por uma verdadeira alternativa, que tenda a apontar para o embrião de um efetivo movimento organizado?
Com a palavra os aspirantes a uma ação on-line conjunta, de cunho verdadeiramente transformador.

Abril/2009




22 de abr. de 2009

A PENA E O PÊNIS


A PENA E O PÊNIS
(um soneto pornográfico)


Porque minha pena de poeta ultrapassado
Ainda insiste em me exigir mais poesia;
Em revelar-me quase sempre ensimesmado,
E abusando da pior pornografia;

Porque este pênis cada dia mais caduco
Ainda acata as perversões da minha mente;
A me fazer um sonetista quase eunuco,
Insatisfeito com seus versos impotentes;

Faço sonetos como se fizesse amor;
Procurando, a cada gozo, um novo estímulo,
Um novo encontro com meu pênis de menino.

Pesco palavras com um anzol masturbador;
A cada verso uma enxadada e outra minhoca
– outra punheta ao estilo troca-troca.


3 de abr. de 2009

n a v e g a r p r e c i s o

Estive em férias off-line.
Naveguei, literalmente, pelos meus mares martírios.
Tudo real!
O tédio, a existência, a dor, o riso, a criança, o oceano, os sonhos, lembranças, idéias…
Curtas férias.
Curtidas como um cruzeiro – fermento!
Vida sem internet.
Internet sem vida.
Estive longe.
Volto ainda mais longe – curto!
E preciso…

4 de mar. de 2009

DESENCARNAÇÃO


alma muita
em corpo pouco
busco um banco
no infinito
onde os eus
que em mim vagueiam
afinal
me depositem

29 de jan. de 2009

esgoto paulistano

esgoto paulistano

os poeta do Pinheiros
nadam em S nadam só
– esgotados

1 de jan. de 2009

FELIZ ANO 9

FELIZ ANO 9

No sul do ano 9
de nosso novo milênio
Velhos fogos chovem